segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os assembleianos não podem sobrecarregar demais e os outros não podem aliviar demais


No dia 4 de junho de 1946, há exatamente 65 anos, a Assembleia de Deus em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, no que diz respeito aos usos e costumes, resolveu, por unanimidade, entre outras coisas, o seguinte:


1. Não será permitida a nenhuma irmã membro dessa igreja fazer sobrancelha, usar cabelo solto, cortado, tingido, com permanente ou outras extravagâncias de penteado, conforme usa o mundo; que se penteiem simplesmente como convém às que professam a Cristo como Salvador e Rei.

2. Os vestidos devem ser suficientemente compridos para cobrir o corpo com todo o pudor e modéstia, sem decotes exagerados; e as mangas devem ser compridas.

3. Recomenda-se às irmãs que usem meias, especialmente as esposas dos pastores, anciãos, diáconos, professores de escola dominical, e as que cantam no coro ou tocam.

4. As irmãs [da sede e das congregações a ela filiadas] que não obedecerem ao que acima foi exposto serão desligadas da comunhão por um período de três meses. Terminado este prazo, e não havendo obedecido à resolução da igreja, serão cortadas definitivamente por pecado de rebelião.

5. Nenhuma irmã será aceita em comunhão se não obedecer a estas regras de boa moral, separação do mundo e uma vida santa com Jesus.

Essas regras de comportamento, exclusivamente femininas, lidas quatro meses depois na convenção geral daquele ano, causou estranheza e desconforto. Soube-se mais tarde que as resoluções da igreja em São Cristóvão foram influenciadas pelas críticas que ela recebeu da Assembleia de Deus de Madureira, também no Rio de Janeiro. Naquela época, os crentes de Madureira, que já observavam todas as regras, consideravam as irmãs de São Cristóvão muito “liberais” em sua forma de se vestir e se pentear. Além do mais, a igreja de São Cristóvão havia sido pastoreada por dois missionários suecos (Gunnar Vingren e Otto Nelson), tidos como os mais rígidos em matéria de vestimentas.

Quase 30 anos depois, a Convenção Geral de 1975 aprovou, também por unanimidade, que todas as igrejas do país a ela filiadas se abstenham do seguinte:
1. Uso de cabelo comprido pelos membros do sexo masculino.
2. Uso de traje masculino por parte dos membros ou congregados do sexo feminino.
3. Uso de pintura nos olhos, unhas e na face.
4. Corte de cabelo por parte das irmãs (membros ou congregados).
5. Sobrancelhas alteradas.
6. Uso de minissaias e outras roupas contrárias ao bom testemunho de vida cristã.

Na mesma oportunidade, a conferência desaconselhou o uso de aparelho de televisão, “tendo em vista a má qualidade da maioria dos programas”, e de bebidas alcoólicas.
Desde o princípio houve regras quanto aos costumes nas Assembleias de Deus, mas elas nunca haviam sido colocadas de forma oficial. Segundo o presidente da convenção, havia “a necessidade de mantermos de pé não somente nossas doutrinas, mas também os costumes usados em nossas igrejas sobre vestuário”.

Na abertura da Convenção de 1993, o presidente José Wellington Bezerra da Costa conclamou a todos “para que fechassem as portas para os costumes malévolos que, sutilmente, introduzem o mundo, a carne e o pecado na Igreja do Senhor”. Na mesma assembleia, o pastor da Assembleia de Deus de São Luís do Maranhão chamou a atenção dos convencionais para que retornassem ao “velho método”, considerado por muitos ultrapassado, porém usado pelo Espírito Santo na igreja primitiva, com resultados surpreendentes. Dois anos depois, na Convenção de 1995, o pastor de Indaiatuba, SP, chegou a propor a exclusão de todos os pastores e igrejas consideradas “liberais”, e que só ficassem os considerados “conservadores”.

Em agosto de 1999, o 5° Encontro de Líderes das Assembleias de Deus (ELAD), realizado na sede da Convenção Geral, no Rio de Janeiro, discutiu o posicionamento da denominação em relação aos costumes e a outras questões. O grande trunfo dessa reunião foi mostrar a diferença entre doutrina e costumes:

Quanto à origem, a doutrina é divina e o costume é humano. Quanto ao “alcance”, a doutrina é geral e o costume é local. Quanto ao “tempo”, a doutrina é imutável e o costume é temporário. A doutrina bíblica gera bons costumes, mas bons costumes não geram doutrina bíblica. Igrejas há que têm um somatório imenso de bons costumes, mas quase nada de doutrina. Isso é muito perigoso! Seus membros naufragam com facilidade por não terem o lastro espiritual da Palavra.

Esse mesmo documento lembra que “doutrina é o ensino bíblico normativo, terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras como regra de fé e prática da vida para a igreja e seus membros”. Os costumes, por sua vez, “são em si sociais, humanos, regionais e temporais, porque ocorrem na esfera humana, sendo inúmeros deles gerados ou influenciados pelas etnias, etariedade, tradições, crendices, individualismo, humanismo, estrangeirismo e ignorância”.

Segundo Paulo Romeiro, pastor assembleiano ordenado nos Estados Unidos em 1984, “os usos e costumes não estão mortos. Há muitos pastores, obreiros e igrejas que lutam para mantê-los, enquanto outros lutam para bani-los”.

Os assembleianos não podem sobrecarregar seus adeptos colocando sobre eles regras concernentes aos usos e costumes. Os outros cristãos, por sua vez, não podem abrir mão das coisas essenciais. A essa conclusão chegaram os apóstolos e presbíteros do famoso concílio de Jerusalém (At 15.1-21). Porém, tanto uns como outros só terão sucesso verdadeiro se apelarem para a renovação interior provocada pela santificação progressiva, e não por força da lei. 

Fonte: Revista Ultimato

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