quarta-feira, 18 de abril de 2012

Qual papel da igreja (setor 36) na Educação infantil?

É bom olhar para o passado e lembrar que a presença e a ação da igreja cristã contribuíram (e contribuem) muito para os avanços educacionais e a transformação social. O historiador Alderi Souza de Matos diz que “a necessidade do estudo da Escritura, o princípio do sacerdócio de todos os fieis e a convicção de que Deus deve ser honrado mediante o cultivo intelectual levaram os reformadores a incentivar a criação de escolas”. Já o pastor Manfred Grellert lembra que “o que mais marcou o Segundo Grande Avivamento no século 19, junto com uma poderosa proclamação do evangelho, foi o surgimento de numerosas ‘sociedades voluntárias evangélicas interdenominacionais’, como sociedades missionárias, de produção de literatura, de promoção de Escolas Dominicais, de reforma moral, e aquelas que buscavam a reforma da sociedade, lutando com assuntos como temperança, paz e abolição da escravatura”.

Há muitas informações sobre o assunto, mas gostaria de relatar somente três acontecimentos: um é a origem das escolas dominicais em Gloucester, uma cidade próxima de Londres, Inglaterra, em 1780. A ideia inicial do filantropo Robert Raikes era tanto cuidar da educação secular quanto transmitir conhecimento cristão especialmente para crianças pobres.

O segundo acontecimento foi a realização, em plena década de 30, no Rio de Janeiro, da XI Convenção Mundial das Escolas Dominicais, com quase 2 mil pessoas. Este fato incrível para uma época em que a igreja evangélica ainda era pequena no Brasil mostra a força do trabalho educacional das igrejas protestantes no mundo.

O terceiro acontecimento, não tão grande como os citados acima, foi a constatação em 2010, através de uma pesquisa realizada em algumas igrejas do setor 36 (Igreja Evangélica Assembleia de Deus – min. Belém). Onde dados levantados apontaram que a maioria dos cristãos que estão inseridos nas comunidades pesquisadas e que estão nas igrejas desde o nascimento ou desde a infância, possuíam um maior nível de escolaridade do que os que tinham aceitado a fé já adultos. Ou seja, dentre os pesquisados, os que tinham melhores formações educacionais nasceram em “berço” cristão ou estavam lá desde crianças.

Escola Dominical tem sua origem na missão integral
Inglaterra, 1780. A Revolução Industrial acha-se em processo. A primeira máquina movida a vapor foi patenteada por James Watt há onze anos. A transformação traz sérios problemas socioeconômicos, com implicações morais e religiosas. Há muitos crimes. Bebe-se como nunca. Os divertimentos populares são grosseiros. Não há instrução. As leis são aplicadas de modo brutal. As prisões são antros de doenças e iniqüidades. A miséria das classes pobres é alarmante.

Vamos agora a Gloucester, uma cidade não muito distante de Londres, à rua Sonthgate. Aquela casa de três andares e três sótãos, à esquerda, é a residência do jornalista e filantropo Robert Raikes. Ele é proprietário do Gloucester Journal, fundado por seu pai há 68 anos. Este homem de 44 anos vem se preocupando muito com a situação moral e espiritual do país. Observou que a ignorância tem sido uma das principais causas do crime. Há em Gloucester uma fábrica de alfinetes que oferece emprego para muita gente, especialmente crianças (o que hoje, felizmente, não acontece mais). Só não se trabalha aos domingos.

Com estas observações na cabeça, Raikes teve a brilhante idéia de organizar uma escola dominical. Mas esta escola não cuidaria apenas da educação secular. Ela daria ênfase à educação religiosa e teria a Bíblia como livro-texto. Assim muitas crianças pobres receberiam educação que as desviariam do vício e do crime.

A escola dominical de Robert Raikes começou em 20 de julho de 1780 e a idéia se espalhou com incrível velocidade. João Wesley deu total apoio ao movimento. Em 1875 organizou-se em Londres a Sociedade para Promoção das Escolas Dominicais nos Domínios Britânicos. No ano seguinte havia 200 mil crianças matriculadas.

No Brasil, a primeira Escola Dominical nasceu em Petrópolis, RJ, no dia 19 de agosto de 1855, na casa do médico e missionário escocês Robert Reid Kalley. Neste dia havia cinco crianças presentes, e a esposa, Sarah Kalley, contou a história de Jonas.

Como os problemas sociais e morais de hoje não são muito diferentes dos problemas de dois séculos atrás, vale a pena resgatar um pouco do cunho social que deu origem à nossa Escola Dominical.

Fonte: Revista Mãos Dadas nº 6 (julho/2003)

1932: Escolas dominicais acolhem crianças pobres

Nos dias 25 a 31 de julho de 1932 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro a XI Convenção Mundial das Escolas Dominicais, com cerca de 1.850 participantes, vindos de diversas partes do mundo. Mesmo com a situação política interna crítica por causa da eclosão da Revolução Paulista naquele ano, os congressistas se reuniram no Teatro Municipal para discutirem os rumos da educação religiosa no mundo e o papel das escolas dominicais.

A preocupação com o ensino infantil tomou boa parte dos debates sobre os objetivos, os métodos e as estratégias para se alcançar as crianças com o evangelho e a educação religiosa. No relatório final, tem-se o seguinte quadro dos evangélicos no Brasil: “há atualmente uma comunidade evangélica total, no Brasil, computando mais de 400.000 membros, dos quais pelo menos 200.000 são crianças de idade escolar. Provavelmente, não há dessas mais que 10.000 crianças na escola primária e 10.000 nas escolas secundárias, da igreja evangélica”.

Estes números revelavam o pequeno alcance que as escolas dominicais e as escolas confessionais evangélicas tinham das crianças em idade escolar no Brasil. Naquele tempo, o ensino público e o ensino privado não alcançavam todas as crianças em idade escolar, sobretudo nas áreas rurais. Além disso, somente 10% das crianças das igrejas evangélicas frequentavam uma escola formal. Isto significa que as demais eram educadas somente pelas escolas dominicais que acolhiam crianças oriundas das camadas pobres da população.

Os dados e as estatísticas das escolas dominicais serviam como referência para a avaliação da presença protestante no mundo, sendo o ensino um fator de unidade num campo religioso marcadamente fragmentado e dividido. A educação era a missão comum dos diferentes ramos protestantes.

Acesse o relato completo deste evento: O Cristo Vivo: um recorte da Educação Protestante em 1932 (Lyndon de Araújo Santos) http://www.maosdadas.org/arquivos/file/Recursos%20oferecidos/MD25/o_cristo_vivo-lyndon_araujo-resg_memoria.pdf

2010 e 2011 se foram após a pesquisa

O que vimos na igreja evangélica nesse período? Evangélicos históricos não se apresentaram à sociedade brasileira uma única vez proclamando sua fidelidade ao “princípio protestante”. Timidez ou omissão? Sobre nada protestaram. Evangélicos pentecostais comemoraram os 100 anos do pentecostalismo introduzido pela nossa igreja, Assembleia de Deus. Neopentecostais incentivaram a prática da religião mágica, superstição, truques de prestidigitação, misticismo e abuso sobre a consciência, individual e socialmente, envolvendo campanhas e promessas, retrato cultural de crenças populares desde sempre: “Deus dará a vitória” e o pior nós pentecostais fomos também por este caminho. O Congresso Nacional foi acrescido de um excelente número de evangélicos “vitoriosos”, em função das eleições de 2010, enquanto o IBGE publica aumento no seguimento evangélico pentecostal e neopentecostal no Brasil.

Livrarias evangélicas enchem-se de bugigangas, enfeites, balangandãs sagrados, cosméticos “abençoados”. Indo a São Paulo, dois endereços obrigatórios: a 25 de Março e a Conde de Sarzedas. Não sendo necessárias as tradicionais bíblias evangélicas, porque as escolas bíblicas – que têm desaparecido em todo o protestantismo – não se fazem necessárias. Uma vez que na religião popular evangélica pentecostal e neopentecostal amuletos e objetos de magia religiosa preenchem a “zona cinzenta entre o sagrado e o profano” (expressão de Roberto DaMatta).

O governo em 2011 correu atrás de ministros corruptos, encontrou dezenas de pastores chafurdados nos setores viários, transportes, que envolvem bilhões de reais em concorrências suspeitas. Muitos deles, originários do PRONA e do Partido Liberal, fundidos no bloco evangélico, dão lições a laranjas com competência inimaginável. Igrejas são ensinadas a roubar do país. Amigos e parentes enriquecem, enquanto se foge da Receita e do Ministério Público. Como explicar essa associação, se o estímulo está nas novas igrejas, as que ensinam a teologia da ganância?

Prevê-se o fim definitivo do protestantismo ético. De quebra, o evangélico acha-se no dever de ser politicamente corporativo. “A Igreja Evangélica hoje não cresce, incha. A diferença é que um corpo, quando cresce, mostra saúde; já o inchaço é sintoma de alguma doença”, afirma Walter McAllister (Cristianismo Hoje, nov./dez.2011). Velhos adversários do protestantismo riem de boca grande, enquanto observam irrelevância e mediocridade nos representantes evangélicos.

A mais admirável personalidade evangélica de 2011 é um neopentecostal. Canais poderosos de televisão favoreceram o “culto doméstico” em torno da televisão (a TV Globo anuncia sua adesão ao evangelical business em 2012, R$ 2 bilhões anuais em questão - Folha Ilustrada 18/12/2011). Sem a presença corpórea da igreja, a televisão evangélica é “pastora eletrônica” de milhões, inclusive históricos, enquanto ensina o evangelho supersticioso e a ganância.

Mega-igrejas pentecostais e neopentecostais ganham aprovação de teólogos importantes, recebem “membros” de dupla confissão, e dupla convivência eclesiástica, aos milhares, devidamente cadastrados; fazem proselitismo por telefone, nas rádios e na TV; declaram o número de seus membros, os quais flutuam lá e cá sem pudores históricos.

Estimulando o egoísmo narcisista (Narciso gosta do espelho, acha-se grande, bonito, perfumado, charmoso, sonoro, sedutor...), exterminando o sentido da comunhão na congregação, onde estão enfermos, deficientes, crianças, mulheres violadas, idosos, carentes de cuidados, ignoram a congregação evangélica real. Sem lugar para socialmente fracassados, excluídos, abandonados pelos poderes públicos. Políticos vão bajular as igrejas nas eleições deste ano, e vice-versa, fortalecendo ao mesmo tempo a prática da compra do voto no culto. Curral eleitoral perfeito, igrejas, além de oferecerem o púlpito, ensinam a votar.

Realizando um inventário dos objetos constantes na residência de um crente evangélico, além dos folhetos contra o homossexualismo protegido por leis civis – e da campanha contra a pedofilia, que deu mais mandatos a políticos com dossiês de corrupção – somos surpreendidos por novidades simbólicas, além das camisetas pretas, entre as muitas encontradas na religiosidade popular. A vida devocional diária doméstica acompanha o uso da religião mágica, orações de poder e símbolos da religiosidade popular: rosas vermelhas, galhos de arruda, sal grosso, manto santo, chave da vitória, lenço da cura; vigília do milagre, unções supersticiosas, carros e residências ungidos, e diversos outros resultados materiais.

A neopentecostalização eclesiástica inclina-se também à simplificação do culto e procura do melhor espetáculo litúrgico, transformado em show e cantorias do pior gosto musical. Uma droga! Competindo com outras, no individualismo eclesiástico, repetem lições de intolerância. Moradores de rua, prostitutas, minorias sexuais, trabalhadores de baixa renda, imigrantes haitianos, bolivianos, deficientes físicos, idosos, não motivam evangélicos recentes. Luto assistido? Nem pensar. São esquecidos doentes terminais, que poderiam ser alvos de cuidados pastorais e eclesiásticos, conforto ao fim da vida. Não interessam, por serem dependentes de cuidados. Não sendo bons clientes, não são consumidores confiáveis. Espaços importantes são ocupados pela pregação interesseira. O apoio logístico à pentecostalização doméstica é avassalador. Inclusive nas igrejas históricas, as quais esqueceram as diaconias que as firmaram no mundo cristão. Sem novidades foi o ano de 2011.

É mais do que oportuno, é de extrema necessidade fomentar o compromisso da igreja Assembleia de Deus - nosso setor Vila Rio Branco - nossas congregações: Ponte Rasa ll, Ponte Rasa, Jd. Cotinha, Vila Santa Lúcia, Lagoa Mirim, Pq. Boturussú, Jd. São Carlos, Jd. Penha - com o ministério infantil e o movimento da Escola Dominical, que não pode ser dissociada da essência da Igreja como sinal do reino de Deus. As crianças têm o direito de saber de Deus. Têm direito de conhecer a Cristo. Elas precisam de recursos, de símbolos e de narrações espirituais, que proporcionam um espaço interior para as expressões fundamentais da esperança, do amor e da confiança, algo crucial para o desenvolvimento delas.

O século 21 traz novos problemas e desafios para a educação numa sociedade secular e pós-moderna. No entanto, os registros históricos (inclusive do nosso setor) mostram que Deus capacitou e ainda capacita a igreja cristã para exercer o seu papel no mundo, não somente gerando transformações espirituais, mas também mudanças sociais. Ambos os efeitos estão essencialmente interligados.
O que podemos fazer?

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