De repente, como que num passe de mágica, você acorda pela manhã e percebe que seu filho ou filha está diferente. As bonecas "Barbies" e seus inúmeros acessórios são esquecidos no fundo de uma gaveta qualquer e as paredes ganham a decoração de fotos dos "Tom Cruises" ou "Brad Pitts" do momento, extraídas de revistas especialmente dirigidas aos "teen" – como gostam de ser chamados.
No quarto dos garotos (tenha cuidado ao entrar) os "rollers" estão pelo chão e sorte sua se você avistar o skate antes de pisar nele! Não há fotos de atrizes prediletas pelas paredes, mas por favor não vá revistar debaixo do colchão ou checar as páginas recentes visitadas por ele na internet - pode ser constrangedor descobrir que seu adolescente guarda ali um número antigo da revista Playboy ou que ele tem "navegado" por mares estranhos...
Você se desespera – talvez tenha uma crise de choro. Começa a se perguntar o que fez de errado. Acha que sua família vai se desestruturar. Em primeiro lugar quero dizer a você: não é necessário o pânico!
É o avanço natural do ciclo vital, cujo relógio só segue para adiante. Certamente este avanço provoca aquilo que denominamos de "Crises de Desenvolvimento".
Estas mudanças acontecem em todas as famílias; são, portanto, universais. E acontecem sempre neste período de passagem de uma etapa à outra do ciclo vital – portanto previsíveis e, em geral, levam a família a graus de funcionamento de maior maturidade, ou seja, são crises normais. Não se pode produzir prematuramente, nem detê-las e provocam mudanças permanentes no status e função dos membros da família.
Quando a família torna-se incapaz, em sua estrutura, de incorporar a esta nova etapa de desenvolvimento, quando não se permite a discussão e o diálogo aberto sobre estas transições, as pessoas e famílias em geral sentem-se isoladas, confusas e com sentimentos de culpa.
Se um filho começa a questionar os valores de vida adotados até então pelos pais e revelar aos mesmos as inúmeras incongruências entre o teórico e o vivido na rotina da família, muitos pais podem sentir-se bastante ansiosos, com receios. Todavia este momento deve ser aproveitado para o crescimento familiar, com uma revisão de vida por parte dos pais, compreensão de suas limitações enquanto parte de sua humanidade, arrependimento de falhas intencionais e propostas de mudanças que visem uma melhor harmonia do núcleo familiar.
Por outro lado quando os pais negam-se a fazer tal auto-avaliação, colocando-se numa postura de "infaláveis" (ou seja, não permitindo nem que os filhos ousem questionar), reprimindo com leis absurdas e castigos desproporcionais às mínimas falhas dos filhos, então corre-se o sério risco de se criar um abismo na relação.
Antes de impedir o avanço do relógio vital, devemos nos preparar para celebrar tais passagens. Um exemplo que muito me alegrou foi de um pastor amigo meu que, ao saber que sua filha havia tido a primeira menstruação, comprou um buquê de rosas e a família fez um almoço especial de celebração, onde o pai expressou a alegria pela transição da filha da infância para a adolescência e conversaram, como família, sobre as implicações de tal passagem, os novos privilégios que a filha iria conquistar progressivamente em termos de autonomia e independência, bem como as novas responsabilidades geradas por tais conquistas.
Muitas vezes as tensões geradas pela transição no ciclo vital são, imperceptivelmente, descarregadas sobre um elemento do núcleo familiar – em geral o elemento mais sensível, o qual passa a apresentar certos "sintomas" (disfuncionais em relação ao padrão familiar), e é logo estigmatizado como: O PROBLEMÁTICO ou A OVELHA NEGRA!
Quanto mais se acirram as tensões, mais se distanciam no diálogo, mais disfuncionais vão se tornando as condutas do adolescente "problema" e mais vai se confirmando a hipótese de que realmente ele é a "ovelha negra".
Os pais podem reagir de distintas formas a estas condutas disfuncionais dos filhos. Alguns criam em suas casas o "MURO DAS LAMENTAÇÕES" familiares (creio que hoje o mais apropriado seria dizer o telefone das lamentações, pois sempre recorrem a um amigo/amiga para derramar seus angustiados corações). Toneladas de culpa são diariamente acumuladas nos "porões familiares", sempre armazenadas para incrementar o fogo das discussões quando nova conduta disfuncional do adolescente se manifesta.
Outros pais procuram espiritualizar a situação e culpam o diabo de todas as mazelas que sobrevêm à família. Se o filho responde com grosseria é porque está influenciado pelo demônio da rebeldia, se não acata uma ordem é o demônio da desobediência, e assim seguem exorcizando os pretensos demônios que assediam o filho, mas eles mesmos esquecem de acercar-se para um diálogo afetivo e saudável.
Não quero dizer com isto que o diabo não se aproveita destas situações para criar mais confusão, afinal esta é sua tarefa: roubar, matar e DESTRUIR! Todavia, numa situação em que impera o amor, a disposição ao diálogo, o afeto e a ternura, o diabo não tem espaço – pelo contrário, ele foge disso (De onde procedem as contendas entre vocês?... Da vossa própria natureza carnal... resisti ao diabo e ele fugirá de vós... Tiago 4:1 e 7).
O diabo não é culpado quando pais deixam de ser atentos às necessidades de seus filhos e priorizam um milhão de atividades em detrimento de uma atenção concentrada a eles. Mesmo a mais eclesiástica das atividades não justifica a desatenção em relação às necessidades básicas dos filhos. A mensagem apostólica aos pais é de não provocar os filhos à ira (Efésios 6:4) e eu creio que muitos filhos ficam irados por causa da falta de atenção dos pais para com suas necessidades afetivas básicas. Veja, NECESSIDADES AFETIVAS, não físicas ou materiais!!!
Portanto creio que toda "OVELHA NEGRA" da família é somente um sintoma de que esta família não está encontrando meios para superar a crise de passagem de uma etapa à outra do ciclo vital e que tenta manter, sob tensão, uma forma de relacionamento muito estreito, que não supre as necessidades emocionais dos membros da família e leva o adolescente - já sensível por natureza – a extravasar tais tensões através de condutas disfuncionais e receber a insígnia de "problemático ou ovelha negra".
Ainda uma última palavra de orientação. A grande maioria das tensões são diluídas com um diálogo franco e aberto, em uma comunicação participativa, onde todos se expressam e são escutados e todos também tem disposição de escutar integralmente o outro, sem pré-julgamentos que nada mais são que pré-juízos para o grupo. Os filhos só vão aprender tal modelo de comunicação se os pais tiverem a mesma como prática corriqueira em sua relação conjugal. Portanto o cultivo de um diálogo entre o casal é básico para uma resolução sadia nas crises de desenvolvimento da família.
Finalmente se sua família está passando por uma crise de desenvolvimento e vocês têm identificado um elemento – um dos filhos – como a "Ovelha Negra", minha sugestão é que busquem um bom conselheiro ou terapeuta familiar, alguém experimentado em assessoramento de famílias (não só um bom conselheiro, espiritual ou um bom psicólogo, afamado, mas alguém com comprovada experiência no assessoramento familiar), e toda a família inicie um processo em busca de novos estágios de maturidade e novas formas de relacionamento, que proporcionem uma harmonia maior de todo o conjunto familiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário