segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Como ser um fracasso como pai

Carlos Catito


O exemplo da família de Davi nos ajuda a avaliarmos quais elementos podem ser evitados dentro de nossos lares a fim de que não venhamos a experimentar tragédias como as que aconteceram na casa do mais famoso rei de Israel. Mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, isso não garantiu a Davi o sucesso como um bom pai de família. Ele era um homem espiritual, temente a Deus, compôs lindas canções de louvor, mas faltaram-lhe alguns quesitos para ter uma família harmoniosa e saudável.

Quais foram os ingredientes da composição desastrosa dentro do lar de Davi e quais são as coisas que você pode fazer para provocar a ruína de seu núcleo familiar? Caso você já esteja praticando alguma destas coisas, acenda o sinal amarelo e busque agentes corretivospara evitar a mesma experiência de Davi no final do episódio com Absalão – sair chorando e lamentando-se pelos corredores do palácio a perda do filho amado.

Em primeiro lugar, para ser um fracasso como pai, gaste tempo demasiado procurando sua realização profissional. Davi tinha um reino para administrar e muitas batalhas para realizar. Isso fez com que ele não tivesse tempo para dedicar-se aos filhos. Muitos pais acreditam que a prioridade em suas vidas é estabelecer-se profissionalmente para poder ter rendimentos suficientes e prover ‘conforto’ para o futuro dos filhos. Assim, dedicam muitas horas ao trabalho e acabam tendo pouca disponibilidade para os filhos.

No afã de buscarem uma provisão para o futuro, esquecem o presente. Na ilusão de deixar muitos bens para os filhos desfrutarem, não lhes oferecem o bem maior que é a sua presença e afeto diários.

Para ter uma família como a de Davi, como todo bom ‘rei’, use TODO o seu tempo livre para investir em você, afinal, como é afirmado em todo o tempo na mídia: você merece! Primeiro gaste seu tempo se atualizando. Hoje em dia uma pessoa desinformada é um cidadão de segunda categoria. Jamais deixe de assistir um noticiário na televisão, assim você será um sujeito que jamais ficará de fora de qualquer assunto em uma roda de conversas, exceto quando a conversa for com o filho. Sem assuntos em comum, com certeza o abismo relacional entre vocêsse ampliará rapidamente.

E não deixe passar nenhuma oportunidade de fazer cursos e de ficar horas no computador visitando páginas que contém informações preciosas para seu crescimento profissional – mesmo à custa de só estar com os filhos nos domingos. Com certeza alguém dirá a você: mas um domingo todo já não é o suficiente?

Também é perfeitamente compreensível que, tendo aulas de idiomas, academias, cursos de especialização e ainda todas as tarefas de seu trabalho diário, no domingo você queira descansar de toda esta semana tão intensa, afinal ninguém é de ferro. Enfim, se você ficar irritado com os filhos correndo pela casa e fazendo barulho e pedindo o tempo todo para você brincar com eles, essa irritação é compreensível, pois é resultado de seu cansaço. Nunca esqueça que a intenção última de todo esse cansaço é ser bem sucedido para proporcionar o ‘melhor’ para a família. Então, nestes momentos de irritabilidade, o melhor a se fazer é dizer para a esposa ir passear com as crianças no shopping. Se eles forem adolescentes, melhor: podem ir sozinhos ou com os amigos. Você então terá seu merecido tempo para o descanso diante da tela do computador ou assistindo ao jogo de seu time preferido. O seu merecido descanso ajuda a pagar os modelos errados pregados na mídia que um dia seu filho poderá querer imitar – afinal, ele não vai querer imitar um pai que trabalha muito, tem pouco dinheiro (se comparado a estes ‘ídolos’), que está sempre cansado e nunca tem disposição de fazer nada com os filhos.

Não se preocupe em ajudar seus filhos a desenvolverem boas amizades. Deixe isso por conta e risco dele. Se eles se envolverem com maus conselheiros, paciência, pois terão que arcar com as conseqüências. E a melhor forma de você fazer isso é você mesmo não ter amigos. Procure viver uma vida isolada socialmente, afinal, os outros só atrapalham mesmo. Se você tiver uma boa rede social, especialmente com amigos de caráter, que tenham valores de vida muito similares aos seus e também tiverem filhos na mesma idade, provavelmente seus filhos irão desenvolver amizades com os filhos de seus amigos e conviverão com pessoas e famílias que tem bons valores de vida, não se metendo facilmente em encrencas ‘por influência dos amigos’.

Jamais reprima os desejos de seus filhos. É preciso dar aos filhos TUDO o que você não teve na infância e adolescência, seja em bens materiais ou em liberdades. Agindo assim, você evitará ‘traumatizar’ seus filhos, exceto, logicamente, quando eles começarem a impor certas condutas e liberdades que você julga erradas e você entrar em discussões fervorosas, que terminam em gritos e até agressões físicas.

Dizem alguns ‘experts’ que você jamais deve impor seus valores a seus filhos, mas deixá-los escolher livremente os valores que eles queiram adotar para a vida – isso sim é a ‘verdadeira liberdade’. Logo, além de não forçar seu filho ir à igreja, também nunca conte histórias da Bíblia para ele, nem realize momentos de devocionais em família. Tampouco fale para eles de suas experiências pessoais com Deus e dos muitos pequenos milagres que Ele já realizou em sua vida, pois isso com certeza influenciaria na sua ‘livre escolha’.

Também não deixe claro aos filhos quais são os seus valores sobre sexualidade, afinal tudo que eles precisam aprender sobre esse tema já está na internet e nas cartilhas ‘muito bem elaboradas e nada tendenciosas’ que ele recebe na escola, feitas com muito critério pelo governo. Ou por acaso você acha que seus valores podem ser comparados aos tecnocratas de um Ministério da Educação?

Outro elemento muito importante para a desgraça familiar, que foi amplamente utilizado por Davi, é o silêncio. Evite dialogar com seus filhos e cônjuge, pois a conversa deles pode ser muito aborrecida. Profundas são as conversas com os amigos em uma mesa de bar! Logo, nunca converse com eles nem demonstre emoções positivas na frente deles. Emocionar-se é para os fracos e você precisa ser forte em seu reino pessoal. Apenas demonstre emoções na hora da raiva: faça valer seu porte físico e seu potente timbre de voz para gritar e intimidar os filhos, pois os gritos, com toda certeza, vão ajudá-los a ouvirvocê melhor. E se os gritos não funcionarem, sempre se pode recorrer à força física – claro, sem espancamentos porque não é politicamente correto e você pode até ser denunciado por isso, mas uns cascudos e tapas, especialmente se os filhos já forem adolescentes. Infalivelmente isso gerará amargura no coração deles, que se sentirão agredidos, e levará seus corações para bem longe do seu coração. E lembre-se: ao disciplinar seus filhos, evite todo e qualquer contato visual, pois os olhos são a janela da alma e se você olhar bem fundo nos olhos deles, talvez veja apenas uma criança ou adolescente ingênuo que precisa aprender a lidar de forma saudável com o meio, e não o monstro que precisa ser domado com gritos e bofetões.

Bem, esses são apenas ALGUNS ingredientes necessários para a desgraça familiar. Espero que as linhas acima sirvam de alerta para uma reflexão profunda sobre o desenvolvimento de um relacionamento saudável entre pais e filhos.

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