Ando desconfiado. Alguém, de quem não faço a menor idéia, tem orado por mim. E, pasme, também por você.
É surpreendente, embora óbvio, o que descobrimos quando esperamos ou recebemos de Deus um agrado. Algo precisa (ou precisaria) ser feito. Apelo a C. S. Lewis: “Na maioria das nossas orações, pedimos por um milagre ou por acontecimentos cuja base deveria ter sido lançada antes de termos nascido”. Por isso, minha desconfiança.
A oração parece uma “completa loucura“. E mais: “Outra coisa estranha é que o propósito da oração não é tornar Deus ciente da nossa dor e da nossa necessidade. A oração é o instrumento pelo qual confessamos duas coisas ao mesmo tempo: a estreiteza de nossos recursos e a extrema largueza dos recursos do poder e do amor de Deus”.
Leio mais uma vez a conhecida oração “bumerangue” de Jó. Isso mesmo. Ele orou pelos amigos e a sua vida mudou (Jó 42.10). E, de quebra, a dos amigos. Na verdade, Deus não aceitaria a oração dos primeiros interessados, mas a do amigo deles. E, por isso, cresce a minha desconfiança de que alguém ora por mim. Talvez um amigo, como o amigo de Elifaz, Bildade e Zofar. Quem sabe, meu avô, minha mãe, meu filho. Não sei...
O pior (ou melhor) é que precisamos confessar, como Paulo: “Não sabemos orar” (Rm 8.26). Mas, enquanto aprendemos, volto a C. S. Lewis: “Para Deus (ainda que não para mim), tanto eu quanto a oração que fiz em 1945 estavam tão presentes na hora da criação do mundo quanto estão agora e estarão daqui a um milhão de anos. O ato criativo de Deus é eterno e eternamente adaptado aos elementos “livres” dentro dele; mas nós nos conscientizamos dessa adaptação de forma seqüencial pela oração e sua resposta”.
Embora atordoado, assim como o poeta, “eu permaneço atento”. Mas dou graças a Deus.
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